É Possível ser feliz sozinha?

Você já escutou uma música de amor sem estar apaixonada? Pode passar batido para muitas pessoas, mas para uma viciada em amor, como eu, é uma experiência marcante. Então… a primeira vez que isso aconteceu comigo eu estava em um ônibus, desavisada e sozinha. Tocou Ivete: “Se eu não te amasse tanto assim”. Imediatamente e inconscientemente comecei a catar um muso e/ou musa para a letra da canção, como um daqueles jogos de cassino em que você puxa a roleta e espera alguma combinação premiada, um encaixe… E nada!

Senti um estranhamento e me critiquei um pouco por não ser a pessoa empoderada que imediatamente pensa: “ué, claro que essa música é pra mim! Eu me amo! Eu sou o máximo! Hora de tomar um banho de espuma bebendo um vinho e me masturbar comemorando como eu sou independente!”. Porque é isso que se espera de uma mulher solteira bem resolvida nos dias de hoje.

Mas acontece que eu não cresci nos dias de hoje, eu tenho outras referências.

Ando pensando muito a respeito da idéia que se faz das mulheres solteiras com mais de 25 anos. Ano que vem eu faço 30, inclusive. Faço um catálogo mental do que eu sei sobre as solteiras de 30 anos e me vejo com alguns arquétipos hollywoodianos: a Bridget Jones, a Carrie Bradshaw e a Miranda Priesley.

É Possível ser feliz sozinha?
É Possível ser feliz sozinha?

A primeira chorava pelos cantos culpando o seu peso pelo fracasso da vida amorosa e a mediocridade da vida profissional. A segunda era a principal do elenco de Sex And The City, pulando de caso em caso, aventura em aventura e escrevendo sobre isso (mas de vez em quando sofrendo por um cara emocionalmente indisponível, o Mr. Big).

É Possível ser feliz sozinha?
É Possível ser feliz sozinha?

A última, mas não menos importante, uma magnata do mundo da moda muito bem sucedida do filme O Diabo Veste Prada, com coração aparentemente de pedra mas no fundo emocionalmente quebrada e incapaz de manter um casamento por muito tempo.   

Analisando mais profundamente 

Embora, de uma forma ou de outra, nenhuma das três está sendo retratada como uma mulher solteira feliz sozinha. Parece que a personagem feminina está muito bem sozinha até lembrar que o amor existe.

Ela trabalha muito, tem muitos amigos, não tem tempo para amar, ela está muito ocupada trilhando o caminho de aventura e vida profissional. Só quando aparece uma chance para o amor verdadeiro ela se abre para ele, ela muda a sua vida para dar espaço para o amor e eventualmente admite que estava sendo egoísta, ou se enganando.

Olho de volta para mim mesma

Lembro que, no meu caso, eu nunca esqueço do amor e não escondo isso. Sinto-me deslocada e esquisita por não ser uma personagem caricata e idealizada… Mas não infeliz. De fato me vejo em um caminho de aventura e vida profissional, e eu gosto muito disso. E me sinto feliz. Mas não esqueci o amor. Eu ainda quero o amor. Só que não acho que a minha vida de solteira é um hiato entre relacionamentos.

Contudo, pretendo continuar vivendo assim e compartilhar essa vida com alguém eventualmente. Compartilhar, não compartimentalizar. Não quero diminuir quem eu sou hoje em função do “amor”. Porque no fim das contas eu quero tanto o amor quanto eu quero uma conta bancária bem gorda: se um dia chegar, vai ser ótimo e me trará maior conforto! Mas se não chegar (ou enquanto não chega), não dá para achar que a minha vida está uma droga ou que eu estou incompleta. Mas se eu não me perdi até aqui, não tenho nenhum pedaço faltando.

É Possível ser feliz sozinha?
É Possível ser feliz sozinha?

Quem é essa personagem? Que filme mostra essa mulher? Talvez a Jessica James, do filme “A Incrível Jessica James” (que eu já assisti umas 3 vezes mas é bem recente).
Estamos vivendo um tempo de transformação. Então os estereótipos que nos guiaram até aqui não se encaixam mais.

Ideal de felicidade

O ideal de felicidade da mulher não precisa ser o mesmo, é normal que mude com as gerações e é normal que esse processo não seja um caminho muito claro e suave. Até pouco tempo a mulher SÓ poderia encontrar a felicidade dentro do ambiente familiar; depois a felicidade era ter um emprego para ajudar o marido e ainda ser uma mãe e esposa presente; depois foi ser uma profissional incrível, bem casada, com filhos inteligentíssimos e ainda por cima gostosa!

Isso tudo porque a mulher estava entendendo seu valor social e mantendo o seu valor familiar. E até aqui foi a busca por esse “ideal de felicidade” que era retratado nas personagens femininas.

Enquanto para o homem a família sempre foi opcional. Até a monogamia sempre foi opcional. Um cara solteiro aos 40 anos é considerado um herói enquanto uma mulher solteira aos 40 anos é considerada incompleta…

Surpresinha: mais um fruto do machismo. Ops… quem diria?

Meu ponto é o seguinte: fica muito difícil se sentir feliz quando você aprendeu que só pode ser feliz quando se encaixar em um ideal de felicidade cheio de requisitos, sendo um deles ter alguém para chamar de “meu bem”.

É Possível ser feliz sozinha?
É Possível ser feliz sozinha?

No fim das contas acho que a grande pergunta não é se dá para ser feliz sozinho. A pergunta é: como ser feliz? Como encontrar a satisfação? Afinal, se um relacionamento fosse sinônimo de felicidade, não haveria divórcios e tantas piadas sobre “minha namorada é foda…”.
Aos 29 anos, solteira e ainda fodida de grana eu percebo que não sou a Carrie, não sou a Bridget e não sou a Miranda. Enfim, eu sou uma personagem sobre a qual ainda vão escrever e vai representar toda uma geração. E dentro dessa narrativa, eu tenho certeza que a relação dela com o amor vai ser tão periférica quanto de qualquer personagem admirável masculino.

Por quê ninguém se preocupa com quando o Batman vai casar, não é mesmo?

E você, amiga leitora, concorda comigo? Qual a sua sugestão de felicidade? Compartilha com a gente, até breve!

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